terça-feira, 6 de abril de 2010

Joaquim Cardozo

Joaquim Cardozo é um dos engenheiros responsáveis pela construção de Brasília, junto com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Foi ele quem calculou o Palácio da Alvorada e a Catedral, entre outros prédios da capital federal.

Nascido em Recife, em 1987, Joaquim Cardozo foi também poeta, escritor, crítico e desenhista. Um apaixonado pelas artes, publicou diversos livros de poesias, contos e peças de teatro.

De nada adianta ficar falando da vida dele, da qual você pode saber mais aqui e aqui. A seguir, uma das minhas poesias favoritas dele - e uma das minha favoritas como um todo, também.

O Silêncio Expectante e a Voz Inesperada

Na penumbra da sala do laboratório, uniforme e absolutamente fechada,
Isolada do som e da luz, isolada do tempo e do espaço,
Procedia-se à investigação memorável.

Procurava-se descobrir o espaço completo e geral
Onde se pudesse definir a pulsação originaria;
Pulsação que seria a substância de todas as vibrações,
Desde as que iluminam as estrelas Cefeides
Até as que comovem o coração humano,
As que marcam, domesticamente, o tempo civil nos relógios
E as que passam ondulando nas cordas dos violoncelos;
Pulsação que fosse o sangue de futuros nascimentos e de novas cosmogonias.
Dela viria a angústia da matéria dispersa em meio às nebulosas
E que ainda não pôde se converter em estrelas,
Viria a angústia das almas inascidas que, com o frio, e o medo de não nascer,
Se abrigam no ventre das mulheres.

Naquele ambiente inerte e indeterminado
Reinava um silêncio liso e sinistro:
Um silêncio que fora a conseqüência de rumores especiais e preciosos,
Um silêncio-fronteira de ruídos apagados em macios de paina e de veludo.

Temia-se, porém, a inversão do tempo ou o pânico da luz,
Temia-se, sim, temia-se alcançar a essência do milagre...
Foi então que uma onda ligeira, perdida e vagabunda,
Entrou sorrateira, inesperadamente,
Por uma fresta imperceptível no rádio:

Era uma voz de mulher cantando nas Antilhas.

E como você blogava antes de saber disso, hein?

Outras inutilidades:
  • Metodista, sabia todos seus poemas de cor, e nunca mudava nem uma vírgula de lugar, mesmo depois de muitos anos dele ter sido composto.
  • É dele a frase: "Eu não sou bem um poeta. Minha vida é que é cheia de hiatos de poesia".

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